É precisamente a palavra que me interessa neste momento. A palavra escrita.
Enquanto folheava mais um book do Daniel Sampaio, “Vagabundos de Nós”, (confortavelmente deitada na relva) parei para observar a página, enquanto os raios de sol me encadeavam os sentidos. Abstraindo-me do significado da palavra, dei comigo a pensar que as letras que compõem as palavras, mais não são do que símbolos (primário? talvez, mas deu-me para isto).
As letras agrupadas em palavras até à construção de frases. Textos.... mais não são do que desenhos certinhos e pequenos, cuja tradução tantas e tantas veze
s me percorre por inteiro. Da cabeça ao coração. Do coração à alma. E tantas são as vezes que me perco e embebedo nos sentires das palavras. Fico de alma cheia.
Qual a matéria com que se forma o que traduzimos em palavras?
Será som
Será cor
Será cheiro
Será movimento..........
É fascinante o universo da palavra. Da escrita.
A palavra, seja ela verbalizada ou escrita é um ente vivo. Tem vida própria. As palavras e a escrita evoluem com os tempos. No tempo da minha avó e do Mestre Almada, a palavra farmácia, escrevia-se com “ph” – pharmácia. E se voltarmos atrás no tempo, não foi assim há tantos anos.... década de 60 do século XX.
(Já me estou a desviar)
Costumo dizer que as palavras escritas só são do autor no momento em que ele as escreve.
Porque depois.... depois são de todos os que as percorrem com olhos. Minhas, tuas, dele, daquele e do outro. As palavras nascidas em Portugal viagem até à China, até á Austrália. Nestas viagens que as palavras fazem viajam também pensamentos e sentires. É um intercâmbio que não termina.
Cada leitor, torna as palavras do autor “suas”. No momento emque se percorre com os olhos as palavras e elas são apreendidas pelos sentidos, de forma individual.
Não existem dois seres idênticos, logo não podem existir duas formas precisamente iguais de apreender o que o escritor pretendeu transmitir. Semelhanças? Sim e muitas. Mas exactamente iguais? Não é possível.
É possível alterar o sentir da palavra. É possível mudar a imagem mental da palavra lida. E reinventar a palavra? Será possível reinventar o que se pretende dizer? Reinventar a palavra até que a mensagem expelida seja imensurávelmente maior? Sim porque existem palavras atribuídas a sentires que se tornam tão pequeninas, ínfimas face ao que se pretende transmitir ou verbalizar.
Tantas vezes face ao horror, não nos ocorrem palavras onde se consiga encaixar o que se sente. E estou a recordar o Holocausto Nazi.
Tantas vezes, a emoção, o sentir de alegria, de amor é de tal forma grande e forte, que a palavra parece pequena demais para abarcar o que se pretende transmitir, tal é a sua grandeza.
Existem palavras mágicas. Palavras que nos envolvem e nos abraçam. Outras existem que causam mágoa e as que causam horror e angústia.
Louco, este mundo de palavras?
Sei lá.
Sei, que tantas e tantas vezes a palavra deve ser reinventada. Brotar das entranhas e nascer de novo.
Rodapé 1: Não sou apologista do acordo ortográfico. Este acordo para mim, nada tem de evolução da língua portuguesa... mais facilitismo.
Rodapé 2: Gosto da palavra Equilíbrio. Da palavra Amor. Da palavra Serenidade. Da palavra Partilha.
Rodapé 3: Não gosto da palavra Ódio. Da palavra Raiva.
Rodapé 4: Abomino a palavra Fome. A palavra Racismo.
Rodapé 5: A palavra Mãe é música para os meus ouvidos. Guardo-a e trago-a sempre junto ao Coração.
Rodapé 6: Poderia ficar horas, dias, a escrever sobre as letras e as palavras...... já chega.
4 comentários:
Gosto de ler e ouvir as tuas palavras.
Joseph
:-) É bom partilhar palavras contigo.
A nice evening my friend
A menina escreve que se desunha. Devo dizer-lhe que ora me parece uma menina de sonhos, ora uma mulher de consciência. Gostaria de dizer que me apraz ler o que escreve. Revela o que sente e o que pensa, sempre de alma e coração.
Parabéns e se permite, a um ilustre desconhecido, vou continuar a espreitar.
Bem haja
Antonio
Obrigada António e seja sempre bem vindo.
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